sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Eu ou Nós?

Eu ou Nós?
Luiz A. Costacurta

O downsizing, a terceirização, os grandes gurus, os consultores, enfim, todos "entendidos" na área de management, tudo nos conduz à era do grupal, trabalho em equipe, sinergia etc. Isso em detrimento de um processo de individualização que, durante muito tempo pareceu ser uma das essências do capitalismo. (especialmente o modelo americano).

Quando mais observamos a vida empresarial encontramos uma discrepância entre o discurso (equipe) e a ação (individualidade).

A nosso ver tal acontece porque o sistema organizacional, educacional e os estilos gerenciais induzem à individualidade, trazendo o efeito de uma causação circular, um alimentando ao outro, continuamente.

Vamos analisar alguns indicadores dessa discrepância, considerando os diversos segmentos da vida empresarial, até mesmo pessoal, em alguns casos.

Currículos: A maioria dos currículos é escrita na primeira pessoa do singular; a impressão que fica é que a pessoa sempre fez/conseguiu tudo sozinha, nunca tendo trabalhado em equipe. Será que o futuro empregador apreciaria isso?

Sistema de Reconhecimento: É muito comum um executivo solicitar um trabalho a um grupo de pessoas. Os resultados são excepcionais, mas em vez de elogiar o grupo, individualiza o reconhecimento.

Sistema de Avaliação de Desempenho/Competências: Se o sistema vigente na empresa for desenvolvido para premiar os "feitos" individuais, desprezando a qualidade de uma atuação grupal, por que o funcionário/executivo vai querer trabalhar em equipe?

Monopolização de Informações: Para muitos executivos informação é poder e para seu uso exclusivo. A era do conhecimento implica na rapidez do compartilhamento desse conhecimento, uma das conseqüências desse compartilhamento é uma abertura coletiva de corações e mentes que induz ao trabalho em equipe, ajuda mútua, motivação para cooperação.

Contatos Externo-Internos: O executivo que acredita no trabalho em equipe, distribui equilibradamente entre seus subordinados a responsabilidade pelos contatos com clientes internos/externos/fornecedores/comunidade/imprensa etc. A idéia é que o autor seja também o divulgador do trabalho, informação etc. Pode até haver filtros e controles por parte do executivo, inclusive sua presença. O que não é muito ético é um fazer e o outro receber os "louros". É um caso típico de apropriação indébita da propriedade intelectual.

Símbolos: Há alguns símbolos que fazem parte do comportamento dos executivos e que demonstram seu culto à individualidade; sentar-se sempre à cabeceira da mesa, ter sempre a primeira (e última) palavra, delegar, mas controlar a toda hora, falar num tom de voz mais alta, cortar a palavra dos funcionários. Na maior parte das vezes essas demonstrações de superioridade, culto à hierarquia inibem o trabalho em equipe.

Sistema Interno de Reconhecimento: A maioria dos executivos vem de funções de natureza técnica, quando o reconhecimento por um bom trabalho decorre da eficácia individual ("meter a mão na massa"). Na posição gerencial é fundamental alterar esse referencial de reconhecimento, pois a competência do executivo será medida pela capacidade de fazer o grupo atuar harmoniosa e sinergicamente na busca de resultados.

Verdade/Amor ou Verdade/Desamor: A motivação para se dar feedback é imprescindível para o trabalho em equipe; fundamental para que a outra parte entenda esse feedback como um ato de contribuição para melhoria do desempenho (verdade/amor) e não como uma forma de ferir/melindrar/destruir (verdade/desamor). Privacidade, equilíbrio entre elogios e críticas, momento adequado, são características de um feedback construtivo. (Verdade/Amor).

Ouvir: O executivo que consegue ouvir tudo que sua equipe tem a dizer antes de falar, estará demonstrando empatia e reconhecendo a importância da contribuição de seus subordinados, parceiros, até evitando direcionar contribuições para determinado sentido (normalmente o que representa sua opinião).

Fatos ou Opiniões: O trabalho grupal sempre será mais eficaz se o executivo e sua equipe trabalharem primeiro os fatos e depois as opiniões. Os primeiros aproximam as pessoas (são pouco suscetíveis a divergências); já as opiniões separam as pessoas.Uma relação que começa com a exposição de fatos ajuda a construir uma base sólida para aceitação de opiniões divergentes.

Concordâncias e Discordâncias: Todo trabalho em equipe incorpora concordâncias e discordâncias. O executivo experiente (e grupal) busca sempre iniciar os trabalhos pelas concordâncias, facilitando a criação de um clima de cooperação no âmbito do grupo.

Conhecimento Pessoal da Equipe: Quanto maior for o conhecimento, por parte do executivo, das características comportamentais dos membros do seu grupo, maior será sua eficácia como potencializador dos resultados da equipe. Tão importante quanto um bom argumento são as diferentes formas de apresentá-lo a pessoas com características diferentes.

Eu ou nós? A escolha será sempre sua, leitor; vale lembrar que a pior postura é a coluna do meio, ou o pendor por um estilo variável.

Seus subordinados, pares, clientes e fornecedores necessitam saber, tão cedo quanto possível em qual "time" você joga, pois transparência é o nome do jogo, quando se fala em trabalhar em equipe.





Postado por: Tayan Lima

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